tem um passarinho cantando na minha alma
ele é verde azul amarelo roxo
arco-íris carmesim
pôr-do-sol via-láctea mar sem fim
cor de açúcar queimado
como o doce olhar daquele por mim amado
às vezes ele é sabiá
e traz o aroma da laranjeira
da flor de maracujá
do jasmineiro amanhecendo para o Sol
meu ser se delicia em tamanha singeleza
às vezes ele é beija-flor
cheio de obscenidades
aqui e acolá penetrando hibiscos despudorados
que ficam por aí tão eróticos
e me fazem voyeur da natureza
às vezes é um periquito
arruaçando meus jardins interiores
noutras um tímido bem-te-vi
a cantar sua solidão em uma árvore seca
quando andorinha faz-me acalorados verões
às vezes é habilidoso como joão
a manejar o barro que sou
me tornando morada de amor indelével
simples como a tudo que o tempo devora
A chuva molha a terra alimentando o ciclo da vida
O mundo vai então se renovando
E logo mais todas as sementes trazidas pelo vento
Começam a romper seus invólucros de escuridão
E saem a buscar a luz
Como as lagartas se fazendo borboletas
E flores vem colorir nossas vidas
E frutos alimentam nossas almas
E mais sementes de inspiração
Abençoam nossos dias
A primavera do lado de dentro
É um elfo encantado
Enamorado
Que chama para cantarolar no espírito dos homens
O coral inteiro dos passarinhos
Pegue a minha mão e caminhe comigo na Terra do Arco-Íris
O Vento é nosso guia, não se preocupe
Apenas veja, sinta, seja
Como o jasmineiro que derrama suavemente sua fragrância no entardecer
Como o murmúrio misterioso das águas
Ou o chamado poderoso do Sol para o novo dia
Vem, vem…
Abre os olhos, inspira
Já é tempo de calar o medo, de lavar a alma
Desnuda teus pés e sente a força te tocar
Corre comigo na chuva, nós já podemos voar
Vem que aqui do alto a gente pode ver o pôr-do-Sol com os anjos
Vem comigo ser dourado feito a relva do campo
Vem, vem, vem…
Vem que as Três Marias querem fazer uma ciranda
Vamos subir até o mundo das estrelas
Constelar…
Tem uma jasmineiro no caminho da minha casa. Todo dia eu desço do ônibus e ele está lá. Sempre cheio de flores e aromas a me ofertar e a ofertar a quem queira. Às vezes a gente conversa (na verdade eu falo) e me dou conta de quantas lições importantes ele me dá. Só por ser, estar e existir naquele local, nesse momento com toda a sua delicadeza e silêncio.
Há crenças em mim de que ele é mais do que aquela singela e frondosa árvore, onde vez em sempre o vento faz uma visitinha, sabe assim ‘dois dedin di prosa’, pra presentear o passante atento com o inebriante perfume de suas florezinhas. Ao visitante cabe a tarefa não de decodificar qualquer mensagem, mas sentir e permitir que isso lhe diga além dos parcos sentidos.
Imagino que em dimensões onde minha vista ainda não alcança ele deva ser um belíssimo elemental, gracioso e sublime como a pureza da humildade. Graças a ele jasmim é então uma de minhas flores prediletas.
E me permito lembrar de personagens como Zezé que passava tardes inteiras conversando com Xururuco, o seu querido pé de laranja-lima e é uma delícia essa sensação de inocência que se produz aqui dentro, que nem é só dentro e que nem sei onde é.
Quando dobro a esquina já vislumbro os dois com conversinhas ao pé do ouvido. O jasmineiro e o vento. Há dias em que me zango por ciúmes, mas é só de brincadeira porque sei que logo vem o vento me abraçando e me levando pra essa conversinha tão íntima, me envolvendo nessa bruma de doçura infinita.
Tem dias que me finjo de invisível e fico só observando o balançar das suas folhas e todas aquelas florezinhas bailarinas rodopiando no ar até chegarem ao chão. Então penso que elas ficam lá e se misturam de novo as coisas da terra, porque segundo Manoel de Barros as coisas tem que adoecer de terra pra merecer ser chão, e alimentam a vida com a sua pequena consciência que é apenas uma parte da consciência daquele que foi um dia sua casa (o jasmineiro) e que não é outra coisa se não parte também da grande consciência do próprio chão. Acho que como as latas (e mais uma vez me remeto a Manoel) elas também querem virar poesia.
Há dias em que ver as muitas faces da alegria não é fácil, mas ele me acolhe como amigo generoso que é e na maior das simplicidades acalenta meus anuviados pensamentos me levando até as estrelas. A gente fica lá, ouvindo o nada e depois tudo melhora.
Cumprir o destino de Ser
Navegando sem medo essa vida
[que é só um pedacinho infinitesimal da eternidade]
Navegar sem medo e confiar no timoneiro do Universo
Dançando e celebrando na abóbada celeste
Mistério encontrado nos paraísos oníricos de Corumbá, a bela
Juntamente com os nasceres crísticos de sóis reinantes no horizonte dos pântanos
como o segredo dos camalotes que preferem desbravar o rio noite adentro
Vindo de uma dimensão paralela
atravessando pontes de arco-íris
adentra como nova cor em nosso mundo
e ao que me parece, ali sempre esteve…
É bem verdade,
somos instantes…
De gratidão infinita nesse Universo
que deposita então lembranças tão doces
feito o Sol e a Lua esparramados pelo chão…
Mas e a estória?
Não saberei até o fim desse período. Sem promessas, sem expectativas… só folhas em branco a serem preenchidas.
às vezes com, ás vezes sem…
cautela.
às vezes com, ás vezes sem…
verdades.
Hora obscuras como o véu da noite. Hora tão claras que farão arder os olhos do leitor descuidado. Verdades inteiras e pela metade.
um momento…
pura ilusão de tempo. Tento mentir… ora, ora, ora… me escondo, me nego . Sou então meu próprio Pedro.
Fugir? Pra onde? Folhas brancas… não há qualquer lugar seguro.
“sede o que tú és” “sede o que tú és” “sede o que tú és”
Sede… e fome… de quê? pra quê?
Folhas brancas e um coração indomado. Amordaçado ainda, mas selvagem ainda.
(suspiro)
As chuvas de primavera já começaram e o quarto crescente já sorri os mistérios da Deusa.
Folhas brancas… caminhos.
Me escreva então “pois como é em cima é embaixo”. Pintemos este Universo macrospular.
Microcosmo. Um reinozinho já não tão particular.
Escrevas tú… sou eu a folha
viva.
Dona da Lua
Que carrega as sementes do fogo sagrado
Em busca da fertilidade sublime
Aonde brote a lótus da pureza
Menina de pés descalços
Que sete vezes
Dançou pro cosmos
Anunciando a vinda dos ancestrais
Mulher-Alada
Que traz a força dos ensinos eternos
E nos olhos o brilho
Das verdades ocultas
Grande-Avó, Irmã e Mãe
Que nos liberta das prisões do ego
Nos amparando a cada morte,
A cada vida
Chama divina
Que arde no peito
Dos que secam as lágrimas
No teu véu
Esperança
Em forma de vida
Amor puro
Que abre as portas do infinito
Perfeição a que se chama natureza
Alimenta essa espiral
De evolução
E revolução
Nascido entre relvas e orvalhos
Banhado no Sol da manhã
Velado por ninfas misteriosas
E encantamentos de deuses estelares
Semente trazida pelo Universo
A encher a casa de sorrisos
Gargalhando nos recônditos da tristeza
A Valente filha do Sol